quinta-feira, 12 de julho de 2007

Apocalipse Now




Há uns tempos atrás escrevi um artigo ambientalista e outros sobre o avanço do mar na minha amada costa da caparica (que quando era miúdo tinha uma infinidade de areal para correr e jogar futebol, e hoje em dia quase chega às dunas....). Escrevi o artigo, escrevo aliás várias coisas, e sou invariavelmente acusado de fatalista, pessimista, etc. Como sempre prefiro considerar as minhas teorias realistas, e isto seguindo as leis de Murphy, que para mim são das leis mais evidentes e certas da vida....

Fez-se agora um mega concerto a nível mundial, o Live Earth, tentando aludir ao mundo todo o quão já conseguimos estoirar e rebentar com este mundo. E agora sim, parece que afinal as minhas teorias "pessimistas" e "fatalistas" não estavam assim tão erradas. Avanço das águas do mar e afins, mudanças climatericas brutais, temperaturas altas na Noruega, cheias avassaladoras em Inglaterra, 45º a 50º (!) graus na Grécia e em Itália, e tanto, tanto mais....

Lembraram-se agora que o nível do mar afinal está MESMO a avançar e a galgar imperdoávelmente terra adentro ! Mesmo em Portugal já há quem se ressinta desse mal, uma vez mais na Costa da Caparica. Aumento das temperaturas ? Não, isso é só no século XXVI, quando os carros voarem livremente pelos céus por entre os magnificentes edifícios de 700 metros, e o teletransporte for possível, depois de já termos ido a marte. Aí sim, pode ser que façam temperaturas exorbitantes de 50º , que a agricultura já nem seja viável dada a tamanha falta de água, e que todas as cidades costeiras (onde habitam 1/3 da população mundial) já tenham sido galgadas pelo mar.

Como sempre, preferimos sempre remediar que prevenir.... Maldita sentença humana....
Sentença essa que está já definida pelo Cosmos há muito. Todos já ouvimos falar no Armaguedon, no Apocalipse, no final do mundo. Claro que isso para nós sempre foram histórias ridículas, de velhos do restelo malucos de cartazes em punho, anunciando o final do mundo se não nos rendêssemos á vontade de Deus.... Não é a vontade de Deus, mas do universo.

Como se sabe, o sol é o astro que rege a vida no nosso sistema solar, e como tão bem se sabe, o sol é uma estrela permanentemente em fogo e chamas de temperaturas inimagináveis, e que obviamente para isso, como qualquer coisa no Universo, necessita de um combustível. Ora como sabemos, á medida que um combustível se vai queimando, vai-se acabando, e o sol não é nenhuma excepção. O combustível do sol está a acabar-se, e com isso o sol ficará cada vez mais quente (parece antagónico mas é mesmo assim), e eventualmente ficará cerca de 2 MIL vezes mais quente do que o é hoje. Mas como se ainda assim não bastasse, conforme vai aquecendo, o sol vai aumentando de tamanho, e que também acabará por ficar 160 vezes maior do que se encontra. Ora este aumento massivo tanto da sua temperatura como do seu tamanho, como é óbvio e devem calcular, irá por fim a todo o nosso sistema solar, pois o nosso Astro-Rei irá literalmente acabar por engolir os planetas mais próximos, dando primazia ao que lhe estãp mais próximos, que como sabemos são Mercúrio e Vénus, dando seguimento á Terra e posteriormente a todos os restantes. Estima-se que isto ocorrerá dentro de 5 Biliões de anos. Claro que estará ja muita gente a pensar que nessa altura já cá não figurarão, e não irão assistir ao amargo final deste maravilhoso planeta. Enganem-se.
Quando o sol ficar apenas 2 % mais quente, a vida humana será completamente extreminada, e quando ficar 5 % mais quente, toda a vida terrestre será aniquilada, até que eventualmente voltemos ás nossas origens, e a terra volte a ser uma enorme bola de fogo e lava, tal como quando nasceu. Irónico como o mesmo astro que nos deu e proporciona a vida é o mesmo que a tira.
Por isso mesmo cientistas de todo o mundo, buscam neste momento soluções para o seguimento da Humanidade no universo. Como já se viu na Terra já não será mais viável, por isso seremos forçados a "emigrar" para outros locais, vulgo planetas. A primeira escolha será Marte, que hoje em dia apresenta temperaturas a rondar os 100 º negativos, mas com o tal aumento da temperatura do sol, acabará eventualmente por ficar com uma temperatura muito semelhante á actual da Terra. Claro que o ambiente e atmosfera lá nos são deveras adversas, por isso seremos obrigados a viver em cápsulas e afins.
Mas como foi referido, a temperatura vai afectar todo o sistema, e aumentará incessantemente, e até Marte mais tarde acabará por ficar inabitável com o aumento da temperatura, o que nos obrigará uma vez mais a "emigrar" para fora, desta vez para o local mais semelhante ao nosso planeta em todo o nosso sistema solar, uma das luas de Júpiter, a Europa, que está totalmente coberta por enormes oceanos, e que aparentemente será assim o noso segundo destino mais provável.
Mas uma vez mais, como já foi dito, o aquecimento afectará todo o sistema, e até a propria "Europa" acabará por aquecer a níveis insopurtáveis pelo humano. E depois ? Depois ainda não se sabe. Vaguear pelo espaço em busca de um local habitável, é até á data o processo mais provável. É a única maneira de preservar a Humanidade e de fazer com que continuemos a existir. Mas, será que vale a pena ? Uma raça que destrói o próprio planeta, que apenas se interessa por bens materiais, e se envolve continuamente em guerras e quesílias, vale mesmo a pena preservá-la ??
Mas isto já é outra questão de nível mais filosófico.
Mas quem pensa que o nosso problema é apenas o aquecimento solar, engane-se.
O planeta Terra é uma das maiores vítimas de meteoritos, e estamos constantemente sobre a ameaça destes. A nossa sorte é termos Saturno, que funciona como um "guarda-costas" terrestre, pois a sua força gravitacional é tão forte, que tudo o que passa perto, é sugado até si, como por exemplo os meteoritos, protegendo assim o nosso planeta. O problema é que apesar de Saturno nos proteger de praticamente todos, falha o praticamente.... Infelizmente não nos pode proteger de todos, sendo a prova disso os vários que já se abateram sobre a Terra (como o tal que levou á extinção dos dinossauros) e tantos e inúmeros outros que passam literalmente a rasar-nos, como por exemplo o de março de 2004. Mas quando vier um que em vez de nos rasar, venha mesmo directo a nós, aí não teremos a mínima das hipóteses. Por mês passam vários na nossa órbita, mas até quando iremos aguentar ? Nos anos 30 por exemplo, houve um que se abateu sobre nós, mas a grande sorte é que foi num local extremamente remoto, e não houve uma única vítima. Mas se algum embate numa qualquer cidade, ou ainda pior, no mar, aí então, muito antes do aquecimento global ou mesmo do solar, somos apenas mais uma nuvem de pó a vaguear pelo Cosmos fora. Quanto tempo mais teremos ? Ninguém sabe. Se não formos nós, será o próprio Universo a acabar connosco. Mas já que ainda não o fez, ao menos que preservemos ao máximo o pouco que ainda temos....

Fatalista ? O universo....

"O que sabemos é uma gota, o que desconhecemos é um oceano...."

segunda-feira, 12 de março de 2007

Pintar a Vida


Desde sempre, que me lembro de pintar. Era ainda miudo e pintava as mais diversas coisas, sobre os mais diversos temas. Normalmente pintava a aquarela, mas também pintava por vezes com outras tintas, o que me interessava mesmo era pintar , criar e exprimir o que me ia na alma. Há pouco tempo fiz um quadro que já tinha na cabeça há algum tempo e que o mostro aqui hoje. Está feito em cera, que é bem mais difícil e trabalhoso que o que se possa pensar. Agradeço ao meu padrinho que é pintor profissional que me emprestou o material.
O desenho e a pintura, é apenas outra forma que encontro (tal como a fotografia, ou a poesia ou escrita) de me "defender" do mundo, de me esconder por detrás de algo e uma forma de expressão que tantas vezes diz bem mais que palavras ou o que for.
Houve um grande fotógrafo que disse um dia que um fotógrafo era um pintor frustrado. Concordo bastante, pois desde sempre que desenho e pinto e que o adoro fazer, mas infelizmente nunca saiu da maneira que desejava (sim eu sei que também sou um perfeccionista exagerado mas já é congénito mesmo, e suponho que crónico também!) por isso talvez me virei para a pintura realista, vulgo fotografia (fotografia significa precisamente desenhar com a luz provém do latim "foto" = luz + "grafia" = desenhar), pois a fotografia é precisamente isso, uma visão particular da realidade, uma maneira de pintar a realidade mas á nossa maneira, tal como a pintura "normal".
Lembro-me por exemplo de quando era novo pintar relógios a derreterem-se, e fazia até bastantes desses, e só há cerca de 3 anos, quando conheci a obra do mais genial pintor de sempre (Dali) é que reparei no seu quadro mais famoso (Persistência da Memória) e vi que eram exactamente relógios derretidos, e que mesmo noutros quadros ele pintava os mesmos relógios derretidos (!!). Obviamente que fiquei estupefacto e mal consegui acreditar, mas claro que os seus são extraordinariamente bem feitos e duma técnica insuperável, tal como toda a sua genial e brilhante obra, pois para mim o mais importante nem é a qualidade com que pintam mas sim o significado e o que exprimem com os quadros, por isso mesmo Dali tal como também Frida Kahlo são a meu ver os mais geniais pintores de sempre.
Aqui fica também assim a minha homenagem a estes dois pintores que tanto nos ofereceram.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Terapia Musical


Hoje decidi simplesmente agradecer. Agradecer a uma das coisas mais importantes da minha vida, a música.
Acho que viver sem música deve ser practicamente impossível. É ela que nos embala o sono, é ela que ouvimos nos momentos maus e bons (se bem que muito mais nos primeiros....), é ela que nos faz pensar, reflectir, enfim, é ela que nos preenche a alma.
Otis Redding, Louis Armstrong, Amália Rodrigues, Xutos & Pontapés, Norah Jones, Frank Sinatra, Dinah Washington, Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, Vinicius de Moraes, Rui Veloso, Beatles, Queen, Jack Johnson, Bob Marley, Piano, Violino, Saxofone, Guitarra Eléctrica, Jazz, Blues, Fado, Música Clássica, Reggae, Rock e Rock & Roll.... e provavelmente ainda mais outros estilos, grupos ou cantores, são exemplos daqueles que me "curam" (não muito é certo....) alguma da minha loucura e insanidade, tão comum a cada um de nós. Se não fosse pela música seguramente que esta loucura iminente estaria bem mais perto do seu limite. Pode não acabar com ela mas ajuda a suporta-la.
"The Doors" of perception....
Por isso, deixo aqui hoje a letra de uma música linda (de tantas e tantas....) cuja letra também o é.
A fotografia foi também tirada na peça de teatro/musical "Sexta-Feira 13", a mais linda peça que já tive a oportunidade de assistir, tanto pela sua história, como pela música, como pela peça e cenário em si, foi de facto, simplesmente extraordinária e fora do comum, que misturava amor, amizade, riso, lágrimas e muito mais.
A todos os músicos que fazem "boa" música, que no ajuda no dia a dia, o meu sincero e profundo Obrigado !
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Don't know why I'm still afraid
If you weren't real
I would make you up
Now
I wish that I could follow through
I know that your love is true
And deep
As the sea
But right now
Everything you want is wrong,
And right now
All your dreams are waking up,
And right now
I wish I could follow you
To the shores
Of freedom,
Where no one lives.

Remember when we first met
And everything was still a bet
In love's game
You would call;
I'd call you back
And then I'd leave
A message
On your answering machine
But right now
Everything is turning blue,
And right now
The sun is trying to kill the moon,
And right now
I wish I could follow you
To the shores
Of freedom,
Where no one lives
Freedom
Run away tonight
Freedom, freedom
Run away
Run away tonight
We're made out of blood and rust
Looking for someone to trust
Without A fight
I think that you came too soon
You're the honey and the moon
That lights
Up my night
But right now
Everything you want is wrong,
And right now
All your dreams are waking up,
And right now
I wish that I could follow you
To the shores
Of freedom
Where no one lives
Freedom
Run away tonight
Freedom freedomRun away
Run away tonight
We got too much time to kill
Like pigeons on my windowsill
We hang around
Ever since I've been with you
You hold me up
All the time I've falling down
The sun is trying to kill the moon,
And right now
I wish I could follow you
To the shores
Of freedom
Where no one lives
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(Honey and the Moon – Joseph Arthur)
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(Agradeço aqui á Ana pois foi do seu site que "roubei" a letra desta canção linda mas que ainda não me tinha lembrado de ir ver melhor)

sábado, 3 de março de 2007

Ruas Solitárias




Nas ruas da amargura
Vagueio em vão
Talvez procurando a cura
Da imensa solidão
Desta "vida" de pouca dura
Sem respostas ou explicação
Onde todos fazemos a jura
Sempre sem hesitação
De ser bela e pura
Mas sempre sem perdão
Nos leva á loucura
Ignorando a ocasião


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Vôvô


Normalmente as homenagens são sempre póstumes, excepto quiçá aos que são realmente "grandes" e relevantes. Por isso mesmo e muito mais decidi hoje fazer aqui uma das mais sentidas homenagens que posso fazer, a um dos maiores homens que jamais conheci e que tive conhecimento em toda a minha vida, o meu Avô.
É mesmo daquelas pessoas que se não existissem teriam de ser inventadas. Um homem que aos 85 (!) anos ainda tem a força e vitalidade que tem, que vai a pé para o trabalho (25 minutos a pé para o trabalho mais 25 de volta para casa) e que eu muitas vezes não o conseguia acompanhar tamanha era a velocidade e vitalidade com que anda (e faz tudo o resto). Não me esqueço de uma vez estar no alentejo em cima duma laranjeira, e o vejo a passar por mim com um saco enorme enfiado no pulso, carregado de laranjas com uns 6 quilos de peso, e a subir ainda mais para o topo da árvore (!), teria ele os seus 80 anos já. E como esta história muitas e muitas mais outras há dele, mas se as contasse todas um blog apenas não seria suficiente para todas as histórias e estórias do "Sr Viana".
É provavelmente a ele que devo por exemplo a minha paixão pela fotografia, dado ele ter sido fotógrafo profissional toda a sua vida, e ter sido inclusivamente, o primeiro fotógrafo a fazer fotografias a cores em Angola (mais propriamente em Luanda). Desde miúdo que me lembro de estar em casa dele brincar com o mais diverso material fotográfico que ele tem por lá e sempre me senti fascinado com todo aquele material.
E das inúmeras vezes que ele tinha a enorme paciência de ir comigo até ao parque do Inatel ali em Alvalade, aos magníficos gelados da avenida de Roma, e mesmo passear até a minha árvore preferida ao pé da sua casa. Ou quando naquelas tardes que lá passava em casa e me contava (e ainda conta) as suas extraordinárias e cómicas estórias, das asneiras e loucuras que fazia quando era miúdo (e mesmo adulto....), ou de como conheceu a minha avó, ou de quando se metia sozinho no meio da selva africana de Angola (algo quase suicida !) para ir fotografar as mais diversas coisas. Enfim, o que não faltaria segurmente são coisas a dizer sobre ele.
É uma pessoa que apesar de teimoso e chato muitas e muitas vezes, tem um dos melhores e maiores corações que jamais me deparei em toda a minha vida. E em toda a minha vida nunca conheci ninguém (mesmo) que não o adorasse ou o achasse no mínimo fascinante e completamene cativante. É literalmente impossível não se gostar dele e é uma verdadeira honra ser seu neto.
Espero ainda conviver com ele muitos e muitos mais anos, pois como ele próprio diz, "É até aos 120 !" e não duvido mesmo nada ! Um homem que aos 85 anos tem mais força e vigor que a esmagadora maioria dos de vinte, 120 anos é o mínimo !
Bondoso, carinhoso, inteligente, bom avô, bom pai, bom marido, sempre bem disposto e a rir, entre dezenas e dezenas de muitas outras coisa é o mínimo que posso dizer dele.
Obviamente que não posso falar do meu avô sem falar da minha avó, o grande amor da sua vida (e ele o dela) que é outra pessoa que também adoro e amo e que é a melhor modista do mundo, sem a qual eu não teria a roupa arranjada decentemente ! Passam a vida a discutir, mas nunca viveriam um sem o outro e amam-se maisque tudo. São uma das maiores histórias de amor que já conheci ate hoje.
Obviamente que muito e muito mais ainda teria para dizer, mas penso que o mais relevante já referi aqui.
Ao meu querido e amado avô (vulgo "vôvô" só para mim !) e também á minha avó (vulgo "Biza" para mim e para quase toda a gente) a maior homenagem e honra por serem os meus avós. Amo-os muito.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Maldição Pensativa


Que benção seria para o Homem não pensar.... felizes aqueles que vivem na devassidão intelectual....

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Avanço de Um Mar de Problemas....


Hoje nas notícias, vi algo que me deixou completamente desconsolado, triste e bastante revoltado.
A mítica praia de S. João na costa da caparica foi hoje devastada pelo mar que entrou por ali adentro. É o resultado de anos e anos a tirar areia, a escavar dunas, enfim, no geral a estragar a nossa costa única em todo o mundo. Ainda me lembro de quando ia para lá surfar quando era miúdo (se bem que não gosto das praias na zona de S. João pois prefiro bem mais as da praia da Rainha e daí por diante) e o areal estendia-se por dezenas de metros até chegar ao mar. Hoje não há literalmente areal.... das últimas vezes que lá fui e passei por lá (pela de S. João) já estava assim, e simplesmente eu não consegia acreditar no que via. Aquela praia de areal interminável estava agora completamente encoberta pelo mar. Aliás, até há 40 anos atrás o areal estendia-se até ao farol do Bugio (!!), que fica nada mais nada menos que a cerca de 400 (!!!!) metros da costa !
Hoje entra pela praia adentro, e já "comeu" todo o areal ameaçando avançar ainda mais....
Felizmente nas praias mais bonitas e melhores (não, não estou a discriminar aquela zona, simplesmente é um facto) como as da Rainha e as que se situam depois, ainda não foram muito fustigadas pelo avanço do mar e ainda têm aquele areal interminável que se estende ainda mais pelas magníficas, lindas e inigualáveis dunas. Mas até quando....? Já conseguimos dar cabo do planeta quase todo e o que ainda não conseguimos está quase. Irónico ter escrito e editado aqui um texto (Evolução Auto-Destrutiva) exactamente sobre estes problemas ambientais com que nos deparamos e que cada vez são mais graves e evidentes e agora acontecer isto (se bem que como escrevi no próprio texto não era nada que já não estivéssemos á espera....).
Será que já é suficiente para se começar a actuar e a fazer algo ? Ou ainda não ? Será que só acordaremos quando acontecer uma verdadeira catástrofe (tão humanamente típico....) ? É o que me parece, pois o Homem só acorda quando já é tarde demais, mas enfim, vamos ver.... Só espero sinceramente que haja maneira de reconstruir e que a mítica costa da caparica possa voltar a ser o que já foi. Se bem que depois da invasão dos horrendos e decadentes parques de campismo sem qualquer tipo de condições que por lá proliferam e das construções devassas e sem sentido ou ordem (barracas mesmo) que por lá construiram também sem qualquer tipo de controlo que fosse, a costa nunca mais foi a mesma, mas enfim, que ao menos na zona das praias propriamente ditas o possa voltar a ser. Não é uma questão dos habitantes da costa da caparica, nem da zona de almada, nem mesmo de Portugal, é um assunto internacional, pois a natureza não tem fronteiras. Um problema ambiental na Amazónia ou numa qualquer floresta na Nova Zelândia afecta tanto os seus habitantes locais como a qualquer outro humano ou ser vivo do Planeta. Economicamente e politicamente podemos estar divididos e sermos alheios a certas coisas, mas a nível ambiental não o somos ! O mundo é de todos ! Como disse Sócrates "Não sou ateniense nem grego, sou sim um cidadão do mundo." Por isso mesmo seja na costa da caparica seja nas Maldivas (que se vacila que desaparecerão dentro de cerca de apenas 50 anos !) ou na Austrália, o problema não é apenas dos locais, é NOSSO !
(Fotografia tirada na praia da Rainha em 2005 num final de tarde de inverno)

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Utópica Filosofia




Quem é que sabe o que quer que seja sobre o que quer que seja ? Quem é que sabe o que quer que seja sobre a vida, a Filosofia, a Metafísica, a Dor, ou a Morte ? Ninguém é ninguém para saber ou ter conhecimento suficiente para teorizar sobre tudo isto que nos envolve. Como diria Sócrates "Quanto mais penso que sei, mais sei que menos sei". Há dezenas de Filósofos com as mais diversas teorias e ideologias. Ora suponho que não estejam todas correctas.... E todos os grandes Filósofos se contradizem entre eles. Em quem devo "acreditar" ou seguir sua ideologia ? Platão ? Sócrates ? Aristóteles ? Kant ? Schopenhauer ? Voltaire ? Nietzsche ? Fernando Pessoa ?? Cada um tem a sua própria Filosofia, e cada um em algum ponto dessa tem razão, e fundamentos, mas lá está, em SUA própria Filosofia.... e a Filosofia é tudo menos matemático ou cientifico, pois cada um tem a sua própria Filosofia, dado que a Filosofia nada mais é que a introspecção, o pensar, e claro está, o sentir. E cada um pensa de maneira diferente, sente de maneira diferente (como diria Pessoa "Vejo o mundo como sou e não como ele é.") e por isso mesmo é impossível chegar-se a um consenso total e irrefutável. Claro que nos podemos apoiar ou identificarmo-nos com outras Filosofias, é normal, tal como eu me identifico bastante com as teorias e ideologias de Platão, do genial Schopenhauer, e de Nietzsche, entre outros, mas obviamente náo concordo com tudo em nenhum deles, pois eu tenho as MINHAS próprias ideologias e a minha própria Filosofia, da qual penso ser a maneira mais correcta de ver o mundo e a vida, tal como todos os outros com suas próprias Filosofias. A Filosofia alheia apenas nos ajuda a estruturar melhor a nossa, e a aprender a pensar e a ver a vida e o mundo de diferentes prismas, que assim nos ensinam a melhorar a maneira de pensar e sentir. O que viemos cá fazer ? Temos de facto algum objectivo aqui ? Para onde vamos ? E de onde viemos ? Qual o verdadeiro sentido de tudo isto ? Estas e muitas mais outras grandes questões aparentemente, não terão nunca resposta, ou pelo menos num futuro tão cercano. Kant por exemplo idealizava que tudo o que percepcionamos é filtrado através das formas do espaço e do tempo, e que nós não podemos "conhecer" verdadeiramente o mundo real, era tudo uma representação, ou seja beseava-se na metafísica, tal como Schopenhauer também idealizava o mundo e sempre também com uma teoria pessimista e negativista (se bem que eu prefiro chamar-lhe de realista....) sobre o Homem, pois afirmava por exemplo que aquilo que se conhece como felicidade seria apenas a interrupção temporária de um processo de infelicidade, e como disse uma vez "Amar é sofrer". Já Sócrates que acreditava também na alma na virtude e no amor. Para ele a virtude derivava do conhecimento e aqueles que têm conhecimento têm virtude e, portanto, agem corretamente, já as pessoas que não agem correctamente, o fazem por falta de conhecimento, por mera ignorância. Já no outro pólo temos Nietzsche que era contra a metafisica, e total descrença no que quer que se pudesse considerar "extra-mundano",era o Anti-Cristo total, e uma das suas frases mais célebres é alias "Deus está morto !". Todos eles entre si discordavam em vários pontos e concordavam noutros, mas ao mesmo tempo, todos eles com a sua razão. Por isso me pergunto, que devo eu fazer ? Deverei ter algum tipo de conduta em detrimento de outra ? Como devo viver eu (ou qualquer Humano) a vida ? Estarei certo ? Estarei errado ? Infelizmente ninguém tem as respostas absolutas de tudo, por isso o máximo que posso fazer é tentar agir de acordo com os melhores valores morais possíveis. Ninguém por mais genial que seja tem as respostas da vida. No máximo tem as suas teorias, e apenas temos de respeitá-las a todas, concordando ou não, já conforme as nossas próprias teorias e Filosofia. Mas responder ao que mais se anseia saber, isso, por enquanto, é apenas uma quimera, uma utopia.
Tal como as nossas vidas....



(Quero apenas aradecer aqui á minha modelo, a Joaninha que tanta paciência tem para me aturar, tanto como modelo como amiga ! Adoro-te miuda !)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

AMÁLIA RODRIGUES



Já li bastantes poemas dos mais variados autores, e sempre me perguntei qual deles seria o melhor, pergunta difícil dado que eram todos excelentes, mas finalmente consegui "descobrir" o melhor poeta do mundo. E não é um poeta. É uma poetisa ! AMÁLIA RODRIGUES !
Já li a obra completa de Pessoa, de Cesário Verde, vários de Florbela Espanca, Walt Whitman, e muitos outros "soltos", e são todos geniais, mas, a Amália consegue ser simplesmente a mais genial que jamais li. A força dos seus poemas, o seu significado, a sua entrega, a sua maneira de ver a vida, a sua dor e sofrimento, enfim TUDO mesmo é simplesmente de arrepiar quando se lê os seus versos e poemas. Claro que já nem falo na sua música, que essa já é mais que sabido o quão boa e linda que era, reconhecida literalmente em todo o mundo, fazendo sucesso por onde quer que passasse, desde a ásia, á américa, a áfrica e europa.
Em 1976 quando foi publicado pela UNESCO o disco "Cadeau de la Vie" figura ao lado de Maria Callas, John Lennon, Yehudin Menuhin, Aldo Ciccolini, Gyorgy Cziffra, e Daniel Barenboim.
Como é óbvio este post não estaria completo sem um ou dois dos seus poemas, mas o problemas nos poemas da Amália e exactemente esse, escolher apenas um ou dois. Por isso vou meter aqui bem mais do que um ou dois, vou meter aqui aqueles que mais me tocaram e que achei serem os mais lindos. Talvez me fascinem tanto os seus poemas por tratarem exactamente dos mesmos temas e assuntos dos meus, e por lhe preocuparem as mesmas coisas, e pelo seu sofrimento tão sentido e profundo, talvez seja por me identificar tanto com ela que a considero a meu simples ver a "número um", mas como já sabemos, como disse um heterónimo de Pessoa "Vejo o mundo como sou e não como ele é". Quem quiser conhecer melhor, e acho que toda a gente devia ler pelo menos uma vez os seus poemas, pode comprar o livro, que se intitula apenas de "Versos Amália Rodrigues".
Aqui fica então a minha sentida homenagem a esta extraordinária e genial enorme Mulher que foi a Amália Rodrigues, que muito infelizmente já não se encontra no meio de nós, mas que com toda a certeza nunca nos deixará....

Estranha Forma de Vida

Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a saudade
Foi por vontade de Deus

Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condão
Que estranha forma de vida

Coração independente
Coração que não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente

Eu não te acompanho mais
Pára deixa de bater
Se não sabes onde vais
Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais

Ai Esta Pena de Mim

Ai esta angústia sem fim
Ai este meu coração
Ai esta pena de mim
Ai a minha solidão

Ai a minha infância dorida
Ai o meu bem que não foi
Ai minha vida perdida
Ai lucidez que me dói

Ai esta grande ansiedade
Ai este não ter sossego
Ai passado sem saudade
Ai a minha falta de aprego

Ai de mim que vou vivendo
Em meu grande desespero
Ai tudo o que não entendo
Ai o que entendo e não quero

Gostava de Ser Quem Era

Tinha alegria nos olhos
Tinha sorrisos na boca
Tinha uma saia de folhos
Tinha uma cabeça louca

Tinha uma louca esperança
Tinha fé no meu destino
Tinha sonhos de criança
Tinha um mundo pequenino

Tinha toda a minha rua
Tinha as outras raparigas
Tinha estrelas tinha a lua
Tinha rodas de cantigas

Gostava de ser quem era
Pois quando eu era menina
Tinha toda a Primavera
Só numa flor pequenina


Tive Um Coração Perdi-o

Tive um coração perdi-o
Ai quem mo dera encontrar
Preso no fundo do rio
Ou afogado no mar

Quem me dera ir embora
Ir embora sem voltar
A morte que me namora já me pode vir buscar

Tive um coração perdi-o
Ainda o vou encontrar
Preso no lodo do rio
Ou afogado no mar

Trago Fados Nos Sentidos

Trago fados nos sentidos
Tristezas no coração
Trago os meus sonhos perdidos
Em noites de solidão

Trago versos trago sons
Duma grande sinfonia
Tocada em todos os tons
Da tristeza e da agonia

Trago amarguras aos molhos
Lucidez e desatinos
Trago secos os meus olhos
Que choram desde meninos

Trago noites de luar
Trago planícies de flores
Trago o céu e trago o mar
Trago dores ainda maiores

Quando Se Gosta de Alguém

Quando se gosta de alguém
Sente-se dentro da gente
Ainda não percebi bem
Ao certo o que é que se sente

Quando alguém gosta d'alguém
É de nós que não gostamos
Perde-se o sono por quem
Perdidos de amores andamos

Quando alguém gosta de alguém
Anda assim como ando eu
Que não anda nada bem
Com este mal que me deu

Quando se gosta de alguém
É como estar-se doente
Quanto mais amor se tem
Pior a gente se sente

Quando se gosta de alguém
Como eu gosto de quem gosto
O desgosto que se tem
É desgosto que dá gosto

Lágrima

Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto

Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim um castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero....
E de noite
De noite sonho contigo

Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar

Ai Minha Doce Loucura

Ai minha doce loucura
Ai minha loucura doce
Meu amor se assim não fosse
Seria a noite mais escura
Meu amor se assim não fosse

Se eu dantes tinha fome
Meu amor anda faminto
Com os beijos que te dei
O que sinto eu já não sei
Eu já nem sei o que sinto

Seria a noite mais noite
Meu amor se assim não fosse
Seria a noite mais escura
Ai minha doce loucura
Ai minha loucura doce

Ai minha loucura doce
Ai minha doce loucura
Ai minha loucura louca
Eu hei-de achar a tua boca
Mesmo na noite mais escura
Se minha alma não ousa
Meu coração que se afoite
Eu hei-de achar tua boca
Ai minha loucura louca
Mesmo na noite mais noite

Meu amor se assim não fosse
Seria a noite mais escura
Ai minha loucura doce
Ai minha loucura louca
Ai minha doce loucura

O Fado Chora-se Bem

Moram numa rua escura
A tristeza e a amargura
A angústia e a solidão
No mesmo quarto fechado
Também la mora o meu fado
E mora meu coração

Tantos passos temos dado
Nós as três de braço dado
Eu a tristeza e a amargura
À noite um fado chorado
Sai deste quarto fechado
E enche esta rua tão escura

Somos vizinhos do tédio
Senhor que não tem remédio
Na persistência que tem
Vem p'ró meu quarto fechado
Senta-se ali a meu lado
Não deixa entrar mais ninguém

Nesta risonha morada
Não há lugar p'ra mais nada
Não cabe lá mais ninguém
Só lá cabe mais um fado
Que neste quarto fechado
O fado chora-se bem

Amor de Mel Amor de Fel

Tenho um amor
Que não posso confessar
Mas posso chorar

Amor pecado
Amor de amor
Amor de mel
Amor de flor
Amor de fel
Amor maior
Amor amado

Tenho um amor
Amor de dor
Amor maior
Amor chorado
Em tom menor
Em tom menor
Maior o fado

Choro a chorar
Tornando maior o mar
Não posso deixar de amar
O meu amor em pecado
Foi andorinha
Que chegou na Primavera
E eu era quem era

Fado maior
Cantado em tom de menor
Chorando um amor de dor
Dor de um bem e mal amado

Grito

Silêncio
Do silêncio faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco
De sombra a sombra
Há um céu tão recolhido
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido
Ao céu
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás d'ela
E eu
A quem o céu esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora

Solidão
Que nem mesmo é inteira
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura
Ai solidão
Quem fora escorpião
Ai solidão
E se mordera a cabeça
Adeus
Já fui p'r'além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede
Adeus
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai como dói
A solidão quase loucura

Horas de Vida Perdida

Horas de vida perdida
À procura de viver
Vai-se á procura da vida
Não a encontra quem quer

Quem sou eu para dizer
Quem sou eu para o saber
Nem sei se sou ou não sou
Ninguém pode conhecer
Isto de ser e não ser

Sem saber sei entender
Assim sei o que não sei
Sinto que sou e não sou
Entre o que sei e não sei
A minha vida gastei
Sem conseguir entender

Ai quem me dera encontrar
As rimas da poesia
Ai se eu soubesse rimar
Tantas coisas que eu dizia

O Tempo Dantes Corria

O tempo dantes corria
E eu ainda corria mais
Mas vi-te e desde esse dia
Que correm mais os meus ais

O tempo dantes corria
E com ele meus folguedos
Mas vi-te e desde esse dia
Correm p'ra ti meus segredos

O tempo dantes corria
E eu corria para a vida
Mas vi-te e desde esse dia
Fiquei de vida perdida

O tempo dantes corria
E eu vivia a correr
Mas vi-te e desde esse dia
Que corro só p'ra te ver

Por Que Voltas De Que Lei

Por que voltas de que lei
Vem este sentir profundo
Por te ver como sei
Me sinto dona do mundo

Por que espada de que rei
Meu amor é fogo posto
És tanto de quanto amei
Que és tudo de quanto gosto

Por este amor que te tenho
Por ser assim como sou
És inferno de onde venho
És o céu para onde vou

Por que voltas de que lei
És tudo de quanto gosto
Me perdi e me encontrei
Nas voltas que tem teu rosto

Por que voltas de que rei
Em meu peito te desenho
És tanto de quanto amei
Que és todo o mundo que tenho

E de tão rica que estou
Nunca tão pobre fiquei
Por ser assim como sou
E te saber como sei

Mãos Desertas

Nesta solidão que é minha
Mora a minha inquietação
E esta angústia que me mata
Mora no meu coração

Salvai o meu coração
Que se queima na fogueira
No fogo desta paixão
Que será p'rá vida inteira

O nosso amor, meu amor
É bom e faz-me sofrer
Prazer que me traz a dor
Do medo de te perder

Ai De Mim Que Me Perdi

Ai de mim que me perdi
Pelos caminhos do tédio
Perdi-me cheguei aqui
Agora não tem remédio

Ai de mim que me perdi
Perdi-me no fim da estrada
Ai de mim porque vivi
A vida desencontrada

Tantos caminhos andados
Não fui eu que os descobri
Foram meus passoa mal dados
Que me trouxeram aqui

Perdida me acho na vida
E a vida já me perdeu
Ando na vida perdida
Sem saber quem a viveu

Por mais que queira encontrar
A razão do meu viver
A razão de cá andar
Não posso compreender

Que culpa tem o destino
Dos caminhos que eu andei
Fui eu no meu desatino
Que andei e não reparei

Perdida estou sem remédio
Meu pecado é meu castigo
Pecado é morrer de tédio
Castigo e viver contigo

Faz-me Pena

Que culpa tem o destino
Deste destino que eu tenho
Se o desgosto é pequenino
Eu aumento-lhe o tamanho

É meu destino
Se o desgosto é pequenino
Eu aumento-lhe o tamanho

Se o desespero matasse
Eu já teria morrido
Talvez alguém me chorasse
Talvez o tenha merecido

Talvez alguém
Talvez alguém me chorasse
Talvez o tenha merecido

Sinto que cheguei ao fim
Das ilusões que não tive
Porque alguém gosta de mim
Algo de mim sobrevive

Cheguei ao fim
Mas se alguém gosta de mim
Algo de mim sobrevive

Adeus que chegou a hora
Há muito a venho esperando
E se por mim ninguém chora
Faz-me pena e vou chorando

Já vou embora
E se por mim ninguém chora
Faz-me pena e vou chorando

(Versos de Amália Rodrigues)

Onde que que estejas Amália, obrigado por tudo....

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Minha Amada Solidão





Minha amada solidão
Que todos os dias me deito contigo na cama
Apenas tu não me deixas só na escuridão
Minha companhia e de quem ama
Já conquistaste o meu coração
Do qual já só restam cinzas sem nenhuma chama
Já não bate, não tem razão
Agora só sangue derrama


Minha querida agonia
Porque decidiste ser só minha ?
Ainda o meu coração mal batia
E já te tinha como vizinha
Nunca me largues como eu queria
Na minha vida és rainha
Em cada maldito dia
Sempre a pisar a linha....


Tantos gritos mudos presos no peito
Aqui deambulam por este coração enjaulado
Sem que nada seja feito
Vou enlouquecendo com tanto desperdiçado
E por mais que tente nao me ajeito
Esta dor que anda sempre a meu lado
Com a qual todos os dias me deito
É este o meu fado

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Alta Insaciedade




Disse um poeta que a morte é a nossa única maneira de finalmente termos calma, paz, descanso e sossego. Cada vez mais penso que deve ser verdade. Sentirmo-nos numa queda constante, tirarem-nos o chão dos pés. Há alturas em que pensamos se algum dia as coisas irão finalmente correr bem e se a vida finalmente se endireitará. Invariavelmente a resposta parece ser não. Quanto mais se tem de sofrer ? Quanto mais se tem de bater com a cabeça ? Quantas vezes mais se é obrigado a cair ? Sei que nada sei é certo, mas.... Não haverá limites ? Que fazer ? Que esperar ? Que querer ? Acho que sozinho faço parte de uma classe social, a "Alta Insaciedade".... E aqui vou esperando o momento em que há-de chegar finalmente a minha calma, a minha paz, o meu descanso, o meu sossego.... Não sei que haverá depois disso mas talvez aí tenha uma oportunidade para me redimir e das asas ao meu descanso eterno.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Evolução Auto-Destrutiva





Para onde caminha a humanidade ? Não falo no sentido metafísico ou filosófico, falo no sentido práctico, real. De vez em quando ouve-se esta pergunta, e a resposta é, invariavelmente, a mesma. Está perdida. Pessoalmente concordo na esmagadora maioria das coisas que levam a pensar e deduzir que realmente estamos perdidos. Por onde começar ? Pelo clima ? Pela poluição ? Pela sobrepopulação ? Pela corrupção ? Nem sei por onde, como diria uma amiga minha o mundo está como uma esfera, não tem ponta por onde se lhe pegue. Ainda no outro dia estive a ler um artigo científico sobre o aquecimento global, e que dizia que quem mais vai sofrer somos precisamente nós, Portugal e toda a peninsula ibérica. Estima-se que com o avançar dos anos toda a peninsula se torne literalmente um imenso deserto com as temperaturas a atingirem niveis exorbitantes e impossíveis de suportar (bem acima dos 50 graus), o que obviamente levará a uma massiva emigração (não só por nossa parte mas em todo o mundo). E como é obvio o clima que nós temos agora (mediterrâneo) irá consequentemente subir para o norte da Europa, ficando assim os países mais a norte com o nosso actual clima (Inglaterra, Alemanha,e mesmo Suiça Dinamarca e quase toda a Escandinávia). Ora isto também terá como é obvio repercussões muito além do ambiente. A nível de agricultura por exemplo, cada clima tem as suas respectivas possibilidades de produção, sendo o clima mediterrâneo um dos melhores pois tem uma temperatura amena que permite grande diversidade de produção (frutas, verduras, cereais, etc etc). Mas claro que, com o aumento das temperaturas, e tornando-se toda a nossa peninsula ibérica num autêntico deserto, quase tudo (senão mesmo tudo....) o que produzimos e podemos produzir, com as temperaturas que farão, se deixará de produzir e de poder produzir, e passando também assim a ser produzido pelos países mais mais a norte que ficarão com o "nosso" clima. Claro que infelizmente não se fica por aqui. A nível turístico será outro imenso problema, pois num sítio desértico e com temperaturas insopurtáveis ninguém fará obviamente turismo, passando também este para os países mais a norte que ficarão com o clima mediterrâneo, proporcionando assim também a possibilidade do turismo. Dá para imaginar daqui a uns anos (e bem menos do que aqueles que imaginamos....) ir-se de férias para as praias da Bélgica ou da Escandinávia ? É realmente caricato, mas somos apenas nós os culpados.
E se efectivamente o nível das águas também aumentar como se espera e prevê, haverá milhões e milhões de pessoas no mundo que também terão de emigrar pois os seus territórios ficarão submersos (só na região da Ásia em particular na China (irónico) que será uma das mais afectadas estimula-se que haverá qualquer coisa como mais de 500 milhões (!) de refugiados). A própria Holanda desaparecerá praticamente toda. Quem me dera que isto fossem apenas dados pessimistas, e um meio de assustar as pessoas de maneira a consciencializá-las, mas muito infelizmente não é. Isto é real, isto é o futuro.... Na minha modesta opinião a culpa de tudo (são muitas e em todos os sectores de toda a sociedade) é claramente o excesso e população que existe. Somos 6 Biliões (!!) no mundo. 6 Biliões !! No início do século XX éramos cerca de 1 Bilião "apenas". Ora como se sabe um só humano gasta por ano milhares e milhares de litros de água, e produz toneladas de lixo e dos mais diversos desperdícios, come centenas/milhares de quilos de comida, e a lista mantém-se por mais não sei quantas coisas. Agora multipliquem todas estas toneladas e litros por 100 pessoas.... e agora multipliquem por 15.000 pessoas.... e por 2 milhões de pessoas.... por 256 milhões.... e agorapor 6 Biliões.... pois.... A este ritmo é normal que tudo acabe e bem depressa, aliás bem mais depressa do que pensamos. O nível populacional, a meu simples ver não deveria nunca ultrapassar a fasquia do Bilião e meio, 2 Biliões de pessoas. E o que já é provavelmente muito, mas isto é apenas uma estimativa básica, pois muito provavelmente acima de 1 Bilião já existe um nível populacional exagerado. Mas agora já é tarde demais para reduzirmos ou fazer o que quer que seja. Claro que se cada um fizer o seu papel e OBRIGAÇÃO, como a reciclagem (não só do papel, mas também de tudo o resto como o plástico, o vidro, as pilhas, etc) reduzir o consumo excessivo e estúpido que fazemos de literalmente tudo desde banho, a lavar os dentes, enfim, ás mais pequenas coisas que parecem irrelevantes e insignificantes, mas que multiplicadas por 6 biliões (!!) fazem uma diferença e que não é nada pouca.... Só por exemplo, se pouparmos por dia, cada vez que lavemos os dentes 2 meros litros de água, TODOS OS DIAS serão poupados 12 BILIÕES de litros de água (isto estimando apenas a uma lavagem por dia obviamente....). E assim é na lavagem de dentes, como no gasto de luz, de comida, de lixo, de papel, enfim, de literalmente tudo mesmo. Não sei se será suficiente para salvarmo-nos a nós próprios da nossa auto-destruição, ou se será suficiente e se vamos a tempo (o que não me parece pois já entrámos há muitos anos numa fase irreversível) mas ao menos que consigamos abrandar a destruição a que estamos condenados, e conseguir adiá-la ao máximo possível. Claro que há imbecis que dizem sempre "Poupar dois litros de água ? Se mais ninguém o faz por que é que eu o faria ?? Não serão os meus 2 litros de água a salvar o planeta !". Pois aí é que está. Primeiro até serão mesmo os dois meros e míseros litros de água de cada um a salvar o planeta, e depois, mesmo que mais ninguém o faça NÓS fazemo-lo. Ao menos a nível de consciência já nada nos pode atormentar, e mesmo que mais ninguém no mundo saiba ou venha a saber quem mais importa sabe-o, nós mesmos....
E com as coisas mais insignificantes e irrelevantes se pode poupar e salvar assim milhares e milhares de outras coisas. Está em todo o lado, agora cabe-nos a nós talvez já não salvar o planeta mas pelo menos fazer com que a sua destruição seja mais lenta e adiá-la o máximo possível. Com sítios como as Maldivas, as Seychelles, o Tahiti, a Polinésia Francesa, o Grand Canyon, os Fiordes da Noruega, a floresta amazónica, os golfinhos, os tigres, o pôr do dol, e tantas tantas outras milhares e milhões de coisas, acho que até é capaz de valer a pena tentar salvar (ou adiar a destruição) deste nosso planeta. Ou será que nem isso somos capazes ? Um milhão de anos de "evolução" humana para chegarmos á auto-destruição.... Não somos afinal assim tão inteligentes....
Mas ainda podemos tentar ser espertos....

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Refúgio




O teu cheiro é o mais afrodisíaco dos aromas
Teus lábios o mais doce dos paladares
A tua pele a mais sedosa das texturas
E o teu toque o mais perfeito dos êxtases

Em ti perco os meus sentidos
Confundo os meus lábios com os teus
Despisto as minhas mãos no teu corpo
Desnorteio-me só com o teu olhar

És como uma lareira
Ardente, que me aquece no inverno
Não te poder ter sempre á minha beira
É o pior inferno

O teu abraço tão meigo mas forte
Que quase me tira a força nas pernas
Faz de mim teu, até depois da própria morte
E das nossas memórias únicas e eternas

Quando tudo te parecer desabar
Quando tudo te parecer não fazer sentido
Sabes sempre onde me encontrar
Sabes sempre onde tens o teu refúgio

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Arrojos




Com tantos poetas extraordinários Portugueses (provavelmente o país com mais e melhores poetas no mundo) é extremamente difícil não cair na tentação de editar aqui pelo menos um ou outro poema de alguns deles ( Fernando Pessoa e repectivos heterónimos, Florbela Espanca Cesário Verde, etc etc).
Por isso hoje aqui exponho um dos mais lindos poemas de Cesário Verde intitulado de "Arrojos".


Arrojos

Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.


Cesário Verde